A descentralização e a universalização do saneamento

O Brasil ainda caminha em passos lentos para a universalização do saneamento básico. Até porque água potável, destinação adequada de resíduos e esgoto são necessidades básicas a que todos temos direito. Em projetos Bio, verificamos comunidades com zero dignidade em relação a água e esgoto. É o reflexo de um país que ainda tem quase 35 milhões de pessoas sem acesso à água tratada, 100 milhões sem coleta de esgotos, segundo ranking do saneamento de 2023.

Observamos também que esse ranking só contempla regiões oficiais, sem levar em consideração as comunidades informais urbanas (que são muitas). Além disso, também não leva em consideração os muitos municípios de pequena população e comunidades rurais. Para se ter uma ideia, a base do SINIS compreende um pouco mais que 2 mil, dos mais de 5 mil municípios do Brasil. 

O grande aliado para essas comunidades e favelas são os sistemas descentralizados. Muitas comunidades rurais, ribeirinhas, indígenas e favelas só conseguem alcançar um real e sustentável saneamento a partir desses sistemas, seja pela localidade ou pela topografia da região. Ao descentralizar, é possível adaptar soluções às necessidades específicas de cada comunidade, garantindo que ninguém seja abandonado. 

Os sistemas descentralizados são mais resistentes às mudanças climáticas e desastres naturais. Em áreas propensas a inundações, secas ou terremotos, a descentralização pode garantir que o fornecimento de água e o tratamento de resíduos permaneçam operacionais, mesmo em condições adversas.  Esses sistemas são mais fáceis de adaptar e expandir conforme as necessidades da comunidade evoluem ao longo do tempo. Mais que isso, podem gerar biogás que substitui gás convencional na cozinha e biofertilizante, além de possibilitar a economia circular dentro da própria comunidade.

Já implementamos 6 tipos diferentes de soluções descentralizadas, em contextos diferentes. No Projeto Jardim Planteucal, onde vivem 30 famílias em uma área de manancial com geografia complexa para entrada de esgoto convencional, a Bio implementou uma rede de coleta e uma enxuta estação de tratamento alternativa usando a tecnologia da Tigre chamada UNIFAM.

Já em uma comunidade indígena do Jaraguá, São Paulo, onde a maior demanda era a construção de uma cozinha com banheiro comunitário, apoiamos essa construção e instalamos um biodigestor da Homebiogas, que recebe efluente do banheiro e resíduos sólidos orgânicos, transformando isso em biogás que alimenta um fogareiro, instalado na cozinha.

Também já construímos biodigestores de anéis de concreto e em tanques IBC, testamos estações de tratamento compactas, como a Bioete, e usamos soluções baseadas na natureza: bacia de evapotranspiração, banheiro seco e vermifiltro.

Para a Biosaneamento, não faltam alternativas de saneamento, tecnologia e muito menos mão de obra técnica para implementação desses sistemas como solução de saneamento em comunidades informais. O que falta é política pública empenhada e com os olhos abertos para enxergar os benefícios desses modelos. Falta mais iniciativa privada investindo seu ESG nessas comunidades. Sem a integração dos sistemas descentralizados, as metas de universalização não sairão do papel!

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